"Passaram-se horas, segundos, minutos, dias, semanas, meses. Passaste tu e passei eu, passámo-nos a nós próprios e um ao outro – um verdadeiro desafio às leis da física e do mundo.Vejo-te distante, como uma luz ao fundo do túnel. Uma luz que deixei para trás, por ser incerta. O resultado de uma lâmpada estragada ou simplesmente de alguém que decidiu não pagar esta conta da luz, esta e todas as posteriores ao dia em que te conheci… Não é triste, embora também não seja feliz o facto de te ter deixado para trás. Sabes, percebi finalmente que sou como uma borboleta. Passei por algumas metamorfoses, até que um dia chegou a minha altura de abrir as asas e voar… sozinha. Tu talvez equivalesses a um réptil – enquanto eu mudo de forma, de postura, tu limitas-te a trocar de pele, de imagem -, e ambos sabemos que mais tarde ou mais cedo um de nós iria acabar comido. Simplesmente não somos compatíveis, possuímos mais defeitos que qualidades em comum. E o maior dos nossos defeitos foi amarmo-nos tanto quanto nos detestamos. Mas enfim… foste o melhor erro que cometi até hoje! A paixão tão rapidamente vem como se vai, foi a lição que aprendi contigo. E tão rapidamente saiu a paixão pela porta da frente do meu coração, como saíste tu pela porta das traseiras da minha casa, fazendo com que eu me apercebesse apenas quando eu mesma te expulsasse da minha vida e casa pela porta da frente, – a única realmente definitiva. Mas estou a divagar. Estou aqui não para me lembrar de ti, mas para me ajudar a esquecer… para te transferir da minha memória pessoal para a minha memória do computador, sem mais pensar no assunto. Ao dizer que te abandonei não significa que não pense em ti, de facto esta noite sonhei contigo. Estava num apartamento com uma bela vista para o que me parecia serem ruelas de Lisboa, cheias de gente e de paixão, como Lisboa deve de ser. De repente tocam à campainha. Eras tu. Abri a porta, tu entras sem dirigirmos uma palavra um ao outro. Perguntei-te depois o que fazias ali, e tu não te pronunciaste. Entras-te pela casa a dentro como se fosse tua, parando no meio da sala. Então começaste a falar… Disseste muita coisa, entre elas constava uma declaração, um pedido de desculpas sincero e uma redenção, de modo a que algum dia te pudesse perdoar e talvez tentarmos de novo, sem esperanças. Não sei porquê o verbo “perdoar” - sendo assim este episódio teria de ocorrer mutuamente –, mas o que é certo é que lá constava. Entretanto, acho que não te respondi e tu foste para a ampla varanda do apartamento, que dava para as tais deslumbrantes ruelas de Lisboa. Eu fiquei no sofá. Recordo-me de ficar a deliberar muito, de pôr as mãos à cabeça e ter vontade de chorar. Era uma angústia semelhante à que senti quando percebemos que estava na hora de desistir… Era uma angústia cansada, como se já estivesse exausta de tudo o que aí viria se aceitasse a proposta. Dirigi-me a ti, estavas de costas para mim. Fiz-te sinal e viraste-te para mim. Olhei para cima e vi a calma dos teus olhos, o refúgio perfeito para os meus. Quis chorar mas não deixaste que derramasse mais que uma lágrima, agarraste-me e ficámos assim… Depois disso pouco me vem à memória, nem sequer o final deste episódio. Apenas posso dizer que acordei com a sensação de que estavas deitado ao meu lado, e que se eu me virasse para o lado podia dar-te um beijo na testa e voltar a dormir agarrada a ti. Mas a substituir-te, estava o meu despertador a lembrar-me de que eras um sonho e eram horas de acordar de vez – de ti e para a vida."
Por uma grande amiga minha.
6 comentários:
que lindo wow
lindo! ela escreve muito bem, como tu :)
esta espantoso,diz-lhe que tem um jeitão para as palavras
inspirador
muito muito muito bom
tão belo este teu texto, como sempre!
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