Vai tudo passando e eu no mesmo lugar, com os pés colados ao chão. Tenho segmentos de filme a passarem-me a frente dos olhos, o filme dos meus dias antes das noites. É como se tivesse palitos a impedirem que os feche, mantém-nos abertos, mais abertos. Chega a invadir-me a vontade de saltar lá para dentro apenas para não observar de fora tudo o que deveria ter sido feito e não foi. Mas o tempo passa a correr, como as pessoas e como o mundo. Cada vez mais rápido e menos nítido e sinto-me no centro do remoinho da situação. Da minha situação. Deixaram-me neste panóptico onde quem observa sou eu. A questão aqui é que já deixou de ser divertido, podíamos inverter as posições ou deixá-las vazias. Ás vezes sinto-me sensível, até magoada, mas dentro disto tudo não existem olhos capazes de me ver. E se virem, de certeza que é por trás de outro panóptico.